Flavio Cruz

O Dedo que Caiu do Céu e algumas metáforas pertinentes

 Mohammed é um homem muito violento que vive perto de Londres. Mais do que isso, ele é covarde, pois bate na esposa. Quer dizer, batia, pois ela resolveu sumir. Mudou de nome e deu o novo endereço apenas para os parentes mais próximos. Mohammed não é homem de desistir de seus objetivos. Estava determinado a achar sua mulher e por isso começou a perseguir e intimidar Mahmood, seu cunhado. Para encurtar a história, fez mais do que isto, matou-o e esquartejou seu corpo. Ninguém sabe onde colocou os restos mortais. Mesmo assim foi condenado com seus comparsas – covarde que era, pediu ajuda para outros criminosos. Está preso, mas você sabe, fica aquela sensação horrível para a família de que a história não terminou, uma vez que o corpo sumiu. Até agora esta história, embora sinistra e triste, é como outras histórias que às vezes acontecem neste mundo doido. O que acontece a seguir, no entanto, é completamente inesperado. Um pássaro, não se sabe por quê, de alguma forma acha o corpo, o que nem mesmo a polícia havia conseguido e, após pegar um dos dedos do defunto começa a voar pelos céus da vizinhança de Londres. Aí, não se sabe se por causa do peso ou por deliberação, a ave o deixa cair. Havia tanto lugar para o dedo aterrissar e desaparecer! Para achá-lo depois seria como procurar uma agulha num palheiro. Capricho do destino ou justiça divina, o dito cujo foi parar num estacionamento. Mais do que isso, foi filmado em sua queda por uma câmara de segurança. O sangue é examinado. Confirmado. Era do irmão da ex-esposa de Mohammed.
Diante da estranheza da situação, imediatamente considerações começam a ser feitas sobre o evento. E todos nós sabemos como é a sabedoria popular, com suas frases e expressões. Quero dizer, não sei se essas considerações foram claramente expressas, mas poderiam, por serem muito óbvias. Por exemplo, tenho certeza de que alguém pensou no dito “um passarinho me contou” ou em “apontar um dedo acusador”. Certamente seria próprio se pensar também que “alguém havia colocado um dedo na ferida”. Entretanto está descartada a frase “mais vale um pássaro na mão do que dois voando” pois, nesse caso acontece exatamente o contrário, uma vez que, ironicamente, mais “valeu um pássaro voando do que vários na mão”. Seguramente podemos também afirmar que "mais vale um dedo no chão - especialmente esse dedo - do que 10 dedos no ar ou na escuridão."
Do ponto de vista da polícia certamente há muita ironia. Imagine se o chefe dos investigadores houvesse dito para seus subordinados com sarcasmo: “Vão atrás das provas, do corpo... ou vocês estão esperando que uma prova caia do céu?” Certamente ficaria sem graça ao saber que, efetivamente, a prova caiu do firmamento. “O que vocês estão esperando? Um milagre?” Também seria humilhante para ele, pois tecnicamente o que aconteceu foi um milagre.
Do ponto de vista do réu, ele certamente gostaria que o pássaro tivesse ficado de “bico fechado” e se possível, “não metesse o bico onde não é chamado”. Se quisesse rimar o réu iria pedir para a ave não deixar "a peteca, quero dizer, o dedo" cair do céu. De nada adiantaria, pois, Mohammed está longe de ser poeta e o pássaro, embora voe, viva e “ investigue" na Inglaterra, não entende patavina de linguagem humana, nem inglês, nem português, e muito menos de poesia. De qualquer forma esse tal de Mohammed, além de ser um monstro covarde, é um cara muito, muito, azarado mesmo... para quem tem fé, não é azar, não. É justiça. Não dizemos que Deus escreve certo por linhas tortas? Claro, o Mohammed é o fulano das linhas tortas, e o pássaro certamente... agora já estou ficando confuso...

 

Toutes les droites appartiennent à son auteur Il a été publié sur e-Stories.org par la demande de Flavio Cruz.
Publié sur e-Stories.org sur 29.09.2016.

 
 

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